domingo, 14 de setembro de 2014


Por que ainda não fizeram uma animação?

   Acho que essa pergunta resume a resenha inteira. Gente do céu, esse livro tem cara de filme/animação/desenho a ser feito para crianças. Do início ao fim. Em quesito divisão de cenas, flashbacks, descrições e tema, isso aqui é mais um roteiro que um romance. E confesso que gostaria de assistir à animação desse livrinho.
   “Rumo aos anéis de Saturno” pretende contar a história de Art, nosso narrador, e de seus amigos e familiares numa aventura interplanetária contra monstros malvados em forma de aranhas albinas. Sei que parece ruim, mas é bom.
   Confesso que o autor pecou nas descrições, porque, se ele vai criar um universo inteiramente novo, com alienígenas, mundos, comidas e cheiros que nunca sentimos ou vimos, ele precisaria ter se esforçado mais para nos fazer realmente entender tudo aquilo. Mas a aventura prevalece e entendo seu descaso em perder tempo narrando seres que não tinham tanta importância assim – e haja seres novos, porque a cada página ele cria mais e mais coisas, que chega uma hora que você simplesmente desiste de guardar os nomes e acompanhar a narrativa – e descrevendo em detalhes cenas que são ricamente ilustradas em figurinhas pequeninas ou gigantes ao longo de quase todas as páginas.
   Bom, o livro segue mais ou menos a ideia de “A cidade e as serras”, porque, apesar de nosso narrador ser personagem, ele não parece ser o protagonista. Ele passa mais tempo descrevendo sua idolatria pelo pirata juvenil Jack do que contando o que sente e o que faz. Acho que Art não gosta muito de si mesmo quando comparado ao garoto descolado, divertido e corajoso e independente e bonito e e e e ... que é Jack. A gente saca o ciúme sem pensar duas vezes. Achei essa característica um tanto quanto fofa, porque nosso narrador realmente não teria como ter todas as qualidades de Jack tendo o pai bobão do jeito que ele tem, que só o ensinou botânica e zoologia espacial e mais nada. Mais fofo ainda fica quando Jack se apaixona pela irmã de Art, Myrtle. Como todo bom irmão, o  narrador detesta sua irmã mais velha e não vê nada nela de atrativo e fica tão mais tão bravo com o romance dela com Jack que honestamente não sabemos se essa braveza é por ciúmes do pirata ou de Myrtle.
   Achei o livro uma grande paródia do nosso processo colonizador que se estende não apenas às colônias americanas, mas a outros planetas e luas. Um professor de história do fundamental se valeria deste livro facilmente para tratar das Grandes Navegações, descobertas científicas do Iluminismo e da questão do preconceito contra raças consideradas inferiores por um darwinismo social imoral, já que ele mistura personagens e marcos históricos à ficção.

   Gracinha de livro.
Escrito por Unknown Data: 9/14/2014 11:37:00 AM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

domingo, 7 de setembro de 2014


Ode à loucura

O livro “Holocausto Brasileiro” veio parar em minhas mãos por uma indicação indireta. Um amigo, professor também de literatura, indicou este livro ao meu noivo, que, por sua vez, falou dele para mim... assim... lá fui eu. Achei a proposta do livro extremamente interessante e não demorei 10 dias para já adquiri-lo.
Confesso que fiquei ainda mais empolgada, ironicamente, quando um amigo meu, oriundo de Barbacena, me contou que a mãe havia trabalhado no manicômio referido no livro. Ele diz se lembrar vagamente de ter conhecido um ou outro interno que ia jantar com a família dele nas noites de Natal, pois a mãe por carinho e piedade os convidava.
Fiquei intrigada com esse horror e mais intrigada ainda com a nossa curiosidade humana em estudar as piores tragédias. Estranho esse sentimento que nos atrai para a violência. Acho-o ainda nem de todo ruim, pois é só conhecendo a violência que a repudiamos, que a condenamos e que tentamos impedir que ela aconteça de novo - talvez um pouco na mesma linha da Comissão da Verdade -, mas fiquei com um pouco de medo de mim mesma.
O livro se propõe a narrar a história de um dos mais famosos manicômios do Brasil, o grande hospício de Barbacena, localizado em Minas Gerais, na cidade hoje conhecida como o município da loucura, por conta das diversas casas de recuperação que recebeu ao longo da história brasileira. Ele funcionou por mais de 70 anos como um local de torturas, de animalização, de experimentos, muito mais do que de reabilitação de seus internos.
A tese da pesquisa é comparar o tratamento dado a esses pacientes, com o destinado aos judeus e outros grupos durante o surto nazista. O primeiro argumento se vale da seleção desses internos, que muitas vezes nada tinham de loucos, eram apenas pobres, negros, mulheres que engravidaram antes de casar ou que lá foram aprisionadas por seus maridos para que estes pudessem viver com suas amantes, crianças indesejadas, bêbados, ou simplesmente pessoas que não se encaixavam nas normas sociais por serem tristes demais. Ou seja, o mesmo preconceito nazista, que matou tantos grupos simplesmente por não seguirem as regras consideradas por uma minoria as corretas, ocorreu em Barbacena. O segundo argumento se refere ao tratamento bestializante dado aos pacientes, que passavam frio, fome, dormiam amontoados, faziam trabalho forçado para que outros lucrassem, além de servirem de instrumentos a pesquisas de psicologia e, depois de mortos, de peças para as faculdades de medicina da região.
O livro é repleto de fotos chocantes, reveladoras e de nomes de pessoas que tentaram ajudar a acabar com esse sistema repugnante, de deputados a Foucault, de funcionários do estabelecimento a ex-internos.
Mas a linguagem não me agradou. Um, há vários erros gramaticais no livro que deveriam ter sido revisados. Dois, sei que é uma jornalista narrando uma história e que ela deveria se manter sempre objetiva, mas, sério, tem outro lado a ser defendido? Acho que ela poderia sim ter sido menos fria, pois sua voz narrativa soou como indiferente, o que me incomodou ao extremo. Terceiro, o espaço e as personagens não foram apresentados com a devida importância que mereciam. Não se consegue imaginar o ambiente, porque ele mal foi descrito, não se sabe quantas alas havia, onde ficava a cozinha, sala de banho, pavilhão infantil; não há mapa, descrição, desenho, nada. A autora ignorou a arquitetura do lugar, o que dificulta o entendimento de algumas cenas narradas por ela.
Sem contar que a impressão geral que tive foi de um livro escrito com pressa, como um Frankstein de crônicas e outros relatos já feitos por ela que foram juntados e alinhavados sem fazer muito sentido juntos. Não há começo, meio e fim. Há cenas justapostas e confusas.
Parece que ela sabia tanto sobre o lugar que não conseguiu selecionar o que contar, ou que foi obrigada a diminuir o espaço e teve de suprimir partes importantes. A maioria das cenas são superficiais, não há aprofundamento de ação, personagens, descrições, crítica. Nada. Há cenas mal contadas, cruas, frias; outras repetidas; há personagens que somem e reaparecem nos causos sem propósito estético e argumentativo algum.

O livro tem o mesmo formato de “Estação Carandiru” ou “Carcereiros” de Dráuzio Varela, mas não a mesma qualidade. Senti que o tema foi estragado, diminuído pela insensibilidade da escrita e pela construção despropositada do livro. Mas ainda a leitura vale muito a pena.
Escrito por Unknown Data: 9/07/2014 01:55:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

sábado, 6 de setembro de 2014


“Sabrina” ou “Crepúsculo”?

Minha resposta talvez seja: os dois juntos e misturados. A Saga “Cinquenta Tons”, pelo menos nos dois primeiros livros, nada mais é do que o relacionamento obsessivo de Bela e Edward regado a sexo. Confesso que não estou nem um pouco animada ao escrever esta resenha, pois só tenho análises negativas a dar.
O primeiro tópico, e o que mais me incomodou, foi o vocabulário. Este é extremamente limitado, tanto nos diálogos, nas descrições sentimentais da narradora, quanto na narração das cenas sexuais. Sério. Quantas palavras existem no mundo para nomear a relação sexual? Ou os órgãos genitais? Ou as posições, carinhos, apetrechos...? Sério. Sexo é uma das indústrias que mais movimenta dinheiro no mundo e está presente na literatura, filmes, séries, escola, alimentos, roupas... meus Deus! Como a autora não se vale desse conhecimento adquirido na TV aberta para enriquecer o livro???? Não faz sentido uma cena sexual sadomasoquista ser narrada com uma linguagem ineficiente e puritana. E os diálogos, então? Idênticos. Parece que ela criou epítetos, igual nas epopeias antigas. Só que na Grécia a repetição era necessária pela questão rítmica da escansão e não por falta de criatividade. E a frustração não para por aí, porque a relação dos dois é apresentada com vocabulário de um amor infanto-juvenil: cansativo, piegas, idealizado e CANSATIVO.
Apesar disso tudo, a escolha do tema foi inteligente sim. Primeiro, pelo dinheiro, lógico. Que tema melhor que o sexo para atrair público consumidor? Segundo, pela complexidade. Se trabalhado direito, o tema pode acrescentar muito na vida de uma pessoa, pois envolve pressões sociais, psicologia, dinheiro, autoestima, educação e lá se vai a lista... mas nada foi abordado. Nada. Crítica número 1: sadomasoquismo pode ser considerado um estilo de vida, não precisa ser causado por traumas, necessariamente. Mas não, a autora o condena do início ao fim e o embasa no contexto mais obvio possível: abuso sexual na infância. Jura? Não é só violência que gera violência. As causas são múltiplas para um comportamento como esse, inclusiva a livre escolha. Crítica número 2: a combinação de uma menina com baixa autoestima com um homem abusado e sadomasoquista é explosiva e não foi abordada em nenhum momento!!! Foi ridicularizada porque ambos agem de maneira oposta. Ela se torna a dominadora e ele o dominado. Como assim? Com base em quê? Nenhum dos dois nunca teve um relacionamento na vida? Como podem passar da água pro vinho em 15 dias – sim, é isso que leva pra eles anunciarem o casamento -?
Acho que quando a autora se deu conta de que narrar apenas cenas de sexo não ia dar três livros, muito menos quando a maior violência descrita por ela dar tapinhas do bumbum, ela resolveu criar uma trama misteriosa, de vingança e aventura. Mas sua competência para isso é idêntica a de descrever a relação sexual dos dois. Tudo é raso, óbvio e previsível.

Ruim. Muito ruim. Aiaiai que ruim. Me recuso a ler o terceiro. Ponto.
Escrito por Unknown Data: 9/06/2014 08:21:00 PM 4 comentários LEIA TODO O TEXTO!
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