terça-feira, 7 de outubro de 2014


Consciência social

Definitivamente este não é meu escritor. Markus Zusak já me deu muito trabalho para ler “A menina que roubava livros”, narrativa que me atraiu simplesmente pelo livro ser narrado pela morte; confesso que não chorei, nem me descabelei como tantos contam sobre sua experiência com o romance. Achei cru.
Porém, em “eu sou o mensageiro”, a linguagem me surpreendeu. Gosto de livros narrados em primeira pessoa, porque é um constante desafio acreditar naquilo que é narrado por alguém tão intimamente ligado à história e também pelo exercício, sempre muito difícil para mim, de gostar de passar tanto tempo dentro da cabeça de um ser humano que não seja eu. E no caso desse livro, ai meu Deus, como foi difícil!
Nosso narrador é um babaca. Pronto, falei. Ele é um zé-mané, zero à esquerda, um coitado perdido na vida. Tem 19 anos e não fez nada, não mora em lugar nenhum, não conhece ninguém, não quer nada para si, nunca ficou com pessoa alguma que prestasse... Assim, chegaria a dar pena se ele fizesse QUALQUER COISA para mudar sua situação, mas ele é daqueles que irritam por serem conformados demais com sua desgraça. E a linguagem retrata isso ao extremoooooo! Há ironia, preguiça, repetições, descaso, violência... gente! A linguagem realmente reflete o fulano.
Bom, tudo vai bem verossímil até o momento em que o narrador recebe uma carta de baralho com endereços e horários, como uma missão. Depois dessa carta, outras seguem, sendo ele um suposto mensageiro que deveria levar até essas pessoas desses endereços, pistas etc, uma ação, palavra, inspiração, que mudasse suas vidas. Poxa, a ideia é boa, né? Um misto de drama, com investigação policial. Achei bacana. Mas a verossimilhança foi pro ralo uma dezena de vezes. Porque, com certas personagens, a tarefa é difícil, bem pensada. Já com outras... Dá desgosto... Sério mesmo que só dar um sorvetinho pra uma mulher fará com que ela mude completamente sua autoestima? Af.
Aí fica pior no final. CUIDADO! SPOILER GRANDE!
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Terminar o livro com eu não era o “mensageiro”, eu era “a mensagem”??? Mensagem pra mim? Pra nós leitores? O que supostamente esse zero à esquerda poderia ensinar? Que, se ele é capaz de fazer boas ações e mudar a vida dos outros, eu também sou? E eu precisava de um livro inteiro com 300 páginas para me falar isso? Francamente, doutrinagem explícita assim é covardia e desespero, que beira o autoajuda. E falemos claramente: consciência social todo mundo tem, até o Baiano, dono no morro, como já dizia o "Tropa de Elite".
Escrito por Unknown Data: 10/07/2014 01:50:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

Devia ter ficado “O Pássaro Mecânico”
            
               O livro é raso para um adulto, mas na medida certa de profundidade psicológica, fantasia e descrições para uma criança - público alvo do romance.
            O enredo trabalha desde o início com um conflito familiar cada vez mais normal em nossa sociedade: pais despreparados para terem filhos, que só cumprem a função social de tê-los e depois o abandonam aos empregados da casa ou à escola para criá-los. Os textos de Geraldo Tite Simões sobre o trânsito, o tigre e o menino, que analisa o comportamento social das nossas famílias e da nossa formação moral a partir do nhac que o menino levou do tigre no zoo de Cascavel; ou o vídeo do “Porta dos Fundos” dessas últimas semanas, sobre o filho de cinco anos estar dopado de tudo quando é remédio popular hoje entre os psiquiatras, liderando uma gangue sequestradora no colégio, enquanto os pais culpam a escola pelas atitudes da crianças, são pequenos exemplos do quanto precisamos discutir essa problema.
            “Voos e sinos e misteriosos destinos” trata justamente teste tema, graças a Deus. Acompanhamos a narrativa do ponto de vista da criança, o pequeno Jack, que, apesar de jovem, já tem total consciência se seu abandono, o que frustra o leitor, que sofre com o menino.
            Mas para que a narrativa não se tornasse pesada demais, a autora inseriu esta temática dentro de um mundo paralelo ao da nossa Londres do século XIX durante sua Segunda Revolução Industrial. A cidade para onde o menino é transportado é mágica, o que camufla um pouco a discussão, mas na medida certa, e acrescenta nova crítica: os efeitos da poluição e mecanização sobre as pessoas: robôs substituem filhos, e máquinas substituem órgãos danificados pelos ares não mais respiráveis.
            Nesse novo mundo, Jack tentará substituir sua mãe por uma rainha um tanto peculiar, mas para isso terá que abandonar seus amigos que ali criou – a família que já havia conquistado, mas que não soube ver – e disputar seu lugar de filho com o vilão da história.
Nesse contexto de máquinas, enforcamentos, venenos e traições, Jack aprenderá a distinguir os amigos de verdade, a definição de família e também a sentir falta de seus pais. Jack passa a entendê-los, um pouco, o suficiente para querer voltar e para assumir seu papel de herdeiro de uma grande fortuna, mas agora com a consciência de que a mudança em relação à sociedade e à família deve partir dele. Toda essa esperança de melhora é personificada pelo Pássaro Mecânico - título original do manuscrito do livro e que deveria ter sido mantido pela autora –, um misto de lenda e salvação, que trará mais mistérios para a história.

Outro livro com total predisposição para virar filme ou animação. E também outro a ser trabalhado nas aulas de história, para discutir uma revolução massificadora, industrial e fria, que nos torna cada vez mais produtos dela do que seus criadores.
Escrito por Unknown Data: 10/07/2014 11:46:00 AM Comente! LEIA TODO O TEXTO!
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