sábado, 27 de dezembro de 2014


Abrasileirada

            Mas é lógico que todo teatro antigo tem que ter um fantasma. Em Fortaleza não poderia ser diferente. O Theatro José de Alencar é assombrado por uma fantasminha super fofa e com um motivo muito justo por nunca ter ido embora para o Lugar Melhor. De dentro dos porões cheios de fantasias velhas, cenários carcomidos e segredos escondidos, muitas aventuras surgem para a protagonista Anabela.
            O livro é infanto-juvenil, mas confesso que morri de amores e me esqueci da idade que tenho. A história é linda, escrita com uma linguagem ora irônica, ora apaixonada, que traz discussões com direito a “O que vai nos acontecer depois da morte?”, “O que vem primeiro: família ou amor?”, “Todo fantasma é malvado?”.
            A gráfica do livro é perfeita, com páginas todas decoradas com mosaicos bem coloridos ou com fotos do teatro municipal de Fortaleza. E não poderia ser diferente ao tratar de uma das muitas lendas que giram em torno da construção e das apresentações de um dos teatros mais lindos do Brasil. Há um certo clima de mito com passado histórico apimentado com paródia.
Tudo combina, tudo encaixa, inclusive as muitas vozes que narram o livro. Apesar de alguns dos focos narrativos não terem coerência alguma em estarem contando certa parte da história, porque não teria como mesmo aquela personagem ter ficado sabendo dos sentimentos particulares de outro fulano, tudo é perdoado pelo público de destino e pelos assuntos a serem discutidos na obra.

Adorei. Minha futura filha lerá, com certeza!
Escrito por Unknown Data: 12/27/2014 11:18:00 AM 2 comentários LEIA TODO O TEXTO!

terça-feira, 23 de dezembro de 2014


Tudo junto e misturado

            “Lua de larvas” para mim foi uma mistura de todas as distopias que já li ou que conheço por osmose – “Admirável Mundo Novo”, “1984”, “Jogos Vorazes”, “Divergente” e companhia. Seguiu meio que aquela receita de vó que pega tudo o que tem na geladeira, mistura numa frigideira e faz um super omelete que quase tem vida própria.
            Estamos em 1956, ano em que o homem supostamente pisou na lua. E é justamente sobre o termo “supostamente” que este romance quer tratar. Acompanhamos alguns dias na vida de um adolescente de 15 anos, num mundo destruído pelas guerras, sob um regime totalitário, abusivo, violento e pouco educativo. Apesar dessas estranhezas que são o que realmente prendem a atenção do leitor que gosta de fantasia, o que repercute no livro mesmo são as características da sociedade de hoje que sobreviveram ao massacre descrito no livro. Conflitos familiares, amor senil, bullying, homossexualismo, corrupção são os temas que imperam no livro, como que para mostrar que mudem os tempos, mudem os meios, o ser humano está fadado a resolver seus conflitos interno custe o que custar.
            É interessante ir descobrindo o ambiente pouco a pouco, conforme a personagem, que é bastante alienada quanto ao seu entorno, contexto político e sobre sua própria vida familiar, também o vai descobrindo. Tudo parece meio confuso no início, mas tudo vai se ajeitando e fazendo sentido ao longo da escrita. Não que a situação da personagem vá ficando melhor, mas o leitor vai se aconchegando à história e fazendo mais parte dela.
            As cenas escolares para mim são as que mais me marcaram, talvez por ser professora e viver nesse meio todo santo dia. Mas a violência corre solta ali. Num ambiente que deveria ser de compreensão e acolhimento, as mais ultrajantes atitudes de repressão, deseducação e manipulação ocorrem.
            Do que não gostei foi do tom a la mal-do-século romântico que o livro nas páginas finais. Mas ainda assim fez sentido para o extremo final (última página) escolhido pela autora.
            Mas as ilustrações bastante significativas, metonímicas e sarcásticas é que ganham o leitor. Eu, por exemplo, li desenfreadamente 190 páginas quase que sem parar só para poder saber como o desenho iria se desenrolar na página seguinte.

            O livro é um bom primeiro passo para quem quer se aventurar num mundo distópico.
Escrito por Unknown Data: 12/23/2014 06:44:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

De repente acabou o livro

            Comecei a ler Socorro Acioli por indicação de um canal literário; pesquisei um pouco sobre as premiações da autora – o que inclui um Jabuti -, sobre o curso que fez sobre escrita criativa com Gabriel Garcia Marquez e me encantei. A primeira obra com a qual tive contato foi “A cabeça do santo”, titulo promissor e totalmente compatível com a história.
            O livro se passa no sertão nordestino brasileiro e começa com uma daquelas descrições marcantes da pobreza a que nosso país é submetido sem que muitos de nós fiquem sabendo ou para a qual muitos fecham os olhos. Toda vez que eu tentar me lembrar de Samuel, é essa cena que me virá à cabeça. A descrição é verossímil, com os exageros devidos e permitidos pela poesia impermeada.
Vemos um homem em busca de vingança, pouco sabemos de sua história, mas já de cara o amamos pela seu carinho pela memória da mãe e o respeitamos por sua decisão racional, brusca e bem fundada em não crer em Deus. Poucos têm essa coragem e essa determinação em não temer a Deus.
O desenrolar da história é magnífico, as personagens são fiéis a seus caracteres e ao meio e condições a que são submetidas, tudo concorda entre si, tudo é surpresa ao mesmo tempo que faz todo o sentido e nos sentimos meio bestas por não termos previsto aquilo. O sobrenatural se mistura com o concreto, com a realidade do telejornal de todos os dias. E, quando vemos, só faltam 40 páginas para o livro acabar e você está pedindo “Por favor, acaba logo pra saber o que vai acontecer com o Samuel” ao mesmo tempo que implora “Não acaba não!”. E aí, para mim, a desgraça começou.

Bom, o livro tinha que acabar de alguma maneira, mas foi corrido demais. Sabe aquela sensação de que nos últimos 10 minutos de filme tem coisa demais pra acontecer e você sabe que não vai dar certo, ou aquele último capítulo de novela em que o bandido foge, volta, fica louco, vai preso, morre, umas sete pessoas casam, três têm filhos, um deles é gêmeo...? Pois é. Muita coisa ficou mal explicada. De repente tudo aconteceu, e tudo foi superficial demais, frio demais, perfeito demais, com coincidências demais. E na catinga ainda? Não. Com os pobres e marginalizados no nosso país a sorte nunca prevalece. Foi incoerente. Ainda mais pelo fato de ele não crer em santos ou mesmo em Deus. Talvez depois disso tudo Samuel devesse acreditar. Mas isso também não deu tempo de ser trabalhado.
Escrito por Unknown Data: 12/23/2014 05:11:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

domingo, 21 de dezembro de 2014


Coisas demais e espaço de menos

            Essa foi a sensação ao ler “Areia nos dentes”. O livro tem 110 páginas e se predispões a falar de tanta coisa em formatos inusitados que, quando cheguei ao final do romance, senti que algumas coisas foram superficiais demais, pouco exploradas, ou que não tiveram a conclusão merecida.
            Fiquei sabendo do livro por indicação de um vlog que sigo e decidi comprar o livro. Me arrependi logo nos primeiros capítulos. Entendi que o objetivo do escritor era acabar com os padrões de leitura homogênea, linear. Para isso, ele fez uso de metalinguagem, diagramação inovadora etc. Senti que entendi a piada no final, mas que achei que ela poderia ter sido contada de forma melhor.
            A apresentação é do Daniel Galera, um autor de quem gosto muito, e que logo nos surpreende dizendo que o livro é de um brasileiro, contando uma história de faroeste mexicano, com zumbis. Sério. Zumbis. Apesar de ambientação ser típica de faroeste, pouco de ação, confronto e tiros realmente acontecem. Os zumbis demoram muito para aparecer, não têm conclusão para suas ações e pouca descrição sobre suas fisionomias. O livro acaba sendo, na verdade, um drama familiar, que aparenta ser muito complexo, mas que não foi plenamente desenvolvido pelo número de páginas disponíveis.
            Esse drama se assemelha muito com “Cem anos de solidão” pelos personagens terem o mesmo nome nas diversas gerações familiares e por deus destinos e maldições se repetirem. Mas nada parece que vai pra frente, porque o autor quebra o sentimentalismo e reflexão das personagens com discussões metalinguísticas.
            A diagramação foi aquilo que realmente para mim teve saldo positivo, pois é inesperada, inovadora, engraçada e útil. Vale a pena por isso. Mas toda a história promissora que um título tão forte quanto esse prometia não foi bem pensada, na minha humilde opinião.
            Não gostei das personagens, de suas ações, de seus desejos. Tudo estava ou claro demais, óbvio - pela construção ou porque o narrador não se continha e expunha todo o mistério -, ou a trama não explicava nada, e muita coisa que ficasse para o intelecto do leitor.

            O que ficou do livro pra mim? A mensagem de que os mortos nunca realmente morrem. Os zumbis são mera metáfora personificada de que a memória daqueles que se foram nunca realmente se dissipa. Independente da quantidade de areia que se jogue por cima deles.
Escrito por Unknown Data: 12/21/2014 02:50:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


Historieta de muitas verdades

Sabe aquela sensação de já li isso em algum lugar? Tive isso duas vezes ao ler “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway. A primeira foi a mais absurda, quando já estava lá pela página 60 de uma novela de 110, pois me caiu a ficha de já tinha efetivamente lido este livro durante a faculdade. Mas só a presença dos tubarões tão justos em sua natureza e tão imorais frente à história me despertaram a atenção e a memória. Como podia ter me esquecido do sofrimento de Santiago?
Mas foi essa tristeza que me proporcionou a vida do personagem, sua obstinação em cumprir uma missão para ele já quase impossível, que o levou quase à morte, à loucura, que me fizeram sentir outro “click” na memória. Santiago por motivos diferentes e com menos intensidade esbarra no capitão Ahab. O primeiro persegue seu peixe quase ao esgotar de suas forças por honra, por fome, para manter a tradição, parasse provar, para perder o azar, para ensinar o menino, para calar a boca de todos aqueles que riam dele. O segundo ama e odeia sua baleia a tal ponto que todos os motivos nobres que servem a Santiago se tornaram pura e vazia obsessão.
Esse desejo do pescador em “O velho e o mar” é atenuado até pela linguagem utilizada, que lembra Graciliano. O personagem é pobre, velho, que ganhou educação da própria vida e que é mais voltada ao mar do que às letras. As frases do narrador são curtas, suas palavras são repetitivas, seus pensamentos são curtos – apesar de nunca rasos. A pequenez da linguagem transforma o que é loucura em um em necessidade ao outro.
Lindo livro. Com uma bela imagem do mar criada pelo autor. Deixo um trecho para os amantes de ambos.
“O velho pensava sempre no mar como sendo la mar, que é como lhe chamam em espanhol quando verdadeiramente o querem bem. Às vezes aqueles que o amam lhe dão nomes vulgares, mas sempre como se fosse uma mulher. Alguns dos pescadores mais novos, aqueles que usam boias como flutuadores para suas linhas e têm barcos a motor, comprados quando os fígados dos tubarões valiam muito dinheiro, ao falarem do mar dizem el mar, que é masculino. Fala do mar como de um adversário, de um lugar ou mesmo de um inimigo. Entretanto, o velho pescador pensava sempre no mar no feminino e como se fosse uma coisa que concedesse ou negasse grandes favores; mas se o mar praticasse selvagerias ou crueldades era só porque não podia evita-lo. ‘A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres’, refletiu o velho.”


Escrito por Unknown Data: 12/15/2014 02:33:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014


Oh detetive, como sobreviverás?

Acho que os romances policiais estão perdendo sua essência. É visível que o gênero romance vem passando por mudanças cada vez mais nítidas para os leitores, mas não esperava que isso fosse chegar aos meus queridos detetives.
O foco dos nossos livros está cada vez mais nos indivíduos retratados do que nas ações em si. Machado já previa isso trazendo à luz a essência e ridicularizando o ato. Dostoiévski levou essa concepção a ferro e fogo criando uma obra de 500 páginas sobre quatro dias na vida de um neo-homicida que praticamente não sai de seu quarto. Até Harry Potter teve mais desenvolvimento individual frente a que a literatura infantil está acostumada. Não é à toa que livros de autoajuda andam bombando nas prateleiras. O ser humano está em crise e é preciso investigá-lo.
Mas fiquei me perguntando, enquanto lia o livro todo, como um romance detetivesco, policial, de aventura nato sobreviveria a isso. O nome do gênero já diz que o que importa é a investigação, a trama, o assassinato. O detetive não pode ser superior a isso. Sherlock Holmes nunca invadiu a esse ponto suas peças criminais; sim sabemos de seu arqui-inimigo, mas seus conflitos pessoais ficam onde devem: dentro dele, longe do mistério e do leitor. James Bond tem seus traumas de infância, mas que só começaram a aparecer com esse último filme que se passa na sua casa materna, ou seja, já na edição 178458912... Mas começar uma saga policial dando mais ênfase à construção do detetive do que do crime me frustrou.
Novamente te lembro, meu caro leitor, que isso são críticas pessoais de uma leitora que ficou honestamente triste por esperar uma trama inebriante e se deparou com um assassinato gratinado à la drama. Até a metade do livro só se sabe que uma moça morreu. Só. Todo o resto é a vida e frustração e tristeza e abandono e mutilação e família e pai rockeiro do detetive. Não. Não era isso que eu queria ler. A história não andava. Não senti aquela febre de não querer largar o livro pra saber quem era o assassino. Não percorri muitas páginas a fio achando que tinha lido só duas. Não rolou. Ponto.
A trama é boa. Mas a construção é longa demais. Tem muitas variáveis, mas nenhuma delas é consistente sozinha. Todas as pistas são pequenas demais. E todas as personagens suspeitas são cansavelmente parecidas. Todos ricos, metidos, sexualizados, drogados e que preenchem suas vidas miseráveis com dinheiro. Ou seja, todos eles são um só. Todos seriam possíveis assassinos. Ou seja, não faz a menor diferença no final quem matou a menina. Eca.
Ok. Há uma explicação plausível. Mas a personagem criminosa não me convenceu como esperava com seus problemas particulares. Sim ela tinha características passíveis de psicopatia, mas não ao ponto em que chegou a trama. Não precisava de tudo aquilo.

Saudades não muito “matadas” dos romances policiais porque esse não contou. Espero que a continuação da saga que, sim, vou ler, deixe disso já que agora seu até o número da cueca do Cormoran Strike.
Escrito por Unknown Data: 12/08/2014 09:14:00 PM 2 comentários LEIA TODO O TEXTO!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


Se tem um livro com final bom é esse!

Puts. Se tem um livro com final bom é esse! Que coisa sensacional! Desde que li a sinopse, sabia que o livro ia ser bom, mas não sabia que mexeria tanto comigo.
Li também num momento bem triste, portanto acho que as frustrações do jovem Colin casaram bem com meus traumas próprios. A atmosfera do livro contagia, primeiro, pela magia, engana pela musicalidade e poesias das cores descritas e das palavras inesperadas. Mas o livro vai se fechando, a história vai ficando cinza, branca, crua, e a linguagem não consegue mais esconder a dor, a raiva, a crítica.
Vemos uma flor, um amor, um sonho matar alguém. Na verdade, matar vários alguéns. Todos nesse livro começam esperançosos, com desejos – de conhecer o autor favorito, se apaixonar, se misturar à família, casar. E todos acabam mortos. Literal ou metaforicamente mortos. Os sonhos vazam. Escorrem. Assim como as cores e a luminosidade dos cômodos do livro. A atmosfera fecha, a narrativa fica truncada, as cenas se misturam, a casa se prensa.
Se você quer aprender o que é metáfora, aqui está uma boa cartilha. Livro lindo, em que homem e rato são a mesma coisa; em que aquilo que é belo mata; em que os amigos mais fiéis não o são; em que o gato e o rato, no final, sofrem da mesma maneira.
Ai... mal acabei e já estou com vontade de ler de novo.

Não dá para contar a história, porque dela se tira pouco. Mas as imagens... ai, que imagens. Sinto que jamais vou querer ver o filme disso. Quero ser simplesmente egoísta e tê-las apenas pra mim, em retinas drummondianas já fatigadas.
Escrito por Unknown Data: 12/01/2014 10:40:00 PM 4 comentários LEIA TODO O TEXTO!
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