Como
falar sobre seu livro favorito?
Acho que esta é uma tarefa impossível. Óbvio que uma
resenha sempre é crítica, mas aqui vai entrar muito mais a emoção do que o
olhar racional em si.
Meu primeiro
contato com o Gabo foi através de “Cem
anos de solidão”, emprestado de uma amiga durante a faculdade. Confesso que
entendi pouco, mas mesmo assim me apaixonei pelo modo de escrever daquele autor
tão... diferente. Alguns meses depois, vendo TV, me deparei com o filme “O amor nos tempos do cólera”, já
começado, mas mesmo assim parei para assistir por ser uma obra desse grade
autor que não havia ainda compreendido. Amei o filme, a despeito dos muitos que
o odiaram.
Na mesma
semana cacei o livro na biblioteca. Não havia. Em espanhol eu não lia. Tive que
comprá-lo. E eu o li, freneticamente, por uma semana. Sem parar. Mas assim que
as últimas páginas foram se aproximando, fui economizando o livro, enrolando
para lê-lo, com medo de me despedir. Quando o fiz, chorei. Chorei rios, litros,
poças, teria resolvido o problema da Cantareira em 5 minutos. Minha mãe se
assustou e veio me perguntar o que estava errado e eu só consegui dizer: “Estou
triste porque nunca mais vou ler nada tão bom quanto isso.”. Minha vida
literária havia acabado. Fiquei uns 15 dias sem conseguir tocar em outro livro,
fato muito difícil para uma rata de biblioteca desde a infância.
Aí você
já imagina o que foi este livro para mim. A história de amor pareceu linda. Desesperada
e perfeita. O casamento nunca havia sido retratado de maneira tão realista e
pura. O sexo desproposital não enojou. E corpos boiando no rio enquanto um
casal se declarava amorosamente no convés pareceu normal. Olha o que um livro
faz com a gente.
Mas aí
veio a obrigação da releitura. Detesto reler livros por medo de estragá-los,
porque eu acredito que a leitura não é composta apenas por aquilo que está
escrito, mas pelo estado de espírito, local em que ela acontece. Agora eu tinha
que fazer um trabalho da faculdade sobre ele, com propósitos críticos e
relacionados à obrigação de passar de semestre. Pronto. Metade do livro morreu
pra mim. A leitura não foi agradável, cheia de amor, surpresas. A dedicação era
obrigação. Mas a experiência não foi de todo ruim. Percebi como amadurecemos ao
longo dos anos. 5 anos depois da primeira leitura, odiei Florentino Ariza, que
me pareceu um louco exagerado e não mais um eterno e genuíno romântico. O casamento
de Fermina e Juvenal soou mais cadenciado, teve mais sentido e confesso que
torci por eles. A mulher se tornou minha heroína, mesmo com todo seu egoísmo e
intransigência. E por isso tive medo. A guerra ao redor deles me incomodou mais
do que a história de amor. Consegui achar Macondo em várias ruas desta cidade
tão diferente. E o cólera... se misturou ao amor das personagens, à minha raiva
da releitura, ao desapontamento dos nossos governos que continuam tão
despreparados.
A história?
Não mudou. E não importa. Mas as descrições... !!! ... ai... O modo de contar a
história, ir e voltar no tempo, seguir um fluxo de pensamento improvável pro momento.
Tudo isso é que interessa. O amor idoso. A crítica social. O humor/amor por
aquela sociedade tão nossa e tão primitiva. O desejo que construir uma América
tão abandonada e tão distante é que me fizeram ainda amar o livro e o autor.
Mas confesso
que continuo não adepta às releituras.