De
repente acabou o livro
Comecei a ler Socorro Acioli por indicação de um canal
literário; pesquisei um pouco sobre as premiações da autora – o que inclui um
Jabuti -, sobre o curso que fez sobre escrita criativa com Gabriel Garcia
Marquez e me encantei. A primeira obra com a qual tive contato foi “A cabeça do
santo”, titulo promissor e totalmente compatível com a história.
O livro se passa no sertão nordestino brasileiro e começa
com uma daquelas descrições marcantes da pobreza a que nosso país é submetido
sem que muitos de nós fiquem sabendo ou para a qual muitos fecham os olhos. Toda
vez que eu tentar me lembrar de Samuel, é essa cena que me virá à cabeça. A descrição
é verossímil, com os exageros devidos e permitidos pela poesia impermeada.
Vemos um
homem em busca de vingança, pouco sabemos de sua história, mas já de cara o
amamos pela seu carinho pela memória da mãe e o respeitamos por sua decisão
racional, brusca e bem fundada em não crer em Deus. Poucos têm essa coragem e
essa determinação em não temer a Deus.
O desenrolar
da história é magnífico, as personagens são fiéis a seus caracteres e ao meio e
condições a que são submetidas, tudo concorda entre si, tudo é surpresa ao
mesmo tempo que faz todo o sentido e nos sentimos meio bestas por não termos
previsto aquilo. O sobrenatural se mistura com o concreto, com a realidade do
telejornal de todos os dias. E, quando vemos, só faltam 40 páginas para o livro
acabar e você está pedindo “Por favor, acaba logo pra saber o que vai acontecer
com o Samuel” ao mesmo tempo que implora “Não acaba não!”. E aí, para mim, a
desgraça começou.
Bom, o
livro tinha que acabar de alguma maneira, mas foi corrido demais. Sabe aquela
sensação de que nos últimos 10 minutos de filme tem coisa demais pra acontecer
e você sabe que não vai dar certo, ou aquele último capítulo de novela em que o
bandido foge, volta, fica louco, vai preso, morre, umas sete pessoas casam,
três têm filhos, um deles é gêmeo...? Pois é. Muita coisa ficou mal explicada. De
repente tudo aconteceu, e tudo foi superficial demais, frio demais, perfeito
demais, com coincidências demais. E na catinga ainda? Não. Com os pobres e
marginalizados no nosso país a sorte nunca prevalece. Foi incoerente. Ainda mais
pelo fato de ele não crer em santos ou mesmo em Deus. Talvez depois disso tudo
Samuel devesse acreditar. Mas isso também não deu tempo de ser trabalhado.
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