segunda-feira, 8 de dezembro de 2014


Oh detetive, como sobreviverás?

Acho que os romances policiais estão perdendo sua essência. É visível que o gênero romance vem passando por mudanças cada vez mais nítidas para os leitores, mas não esperava que isso fosse chegar aos meus queridos detetives.
O foco dos nossos livros está cada vez mais nos indivíduos retratados do que nas ações em si. Machado já previa isso trazendo à luz a essência e ridicularizando o ato. Dostoiévski levou essa concepção a ferro e fogo criando uma obra de 500 páginas sobre quatro dias na vida de um neo-homicida que praticamente não sai de seu quarto. Até Harry Potter teve mais desenvolvimento individual frente a que a literatura infantil está acostumada. Não é à toa que livros de autoajuda andam bombando nas prateleiras. O ser humano está em crise e é preciso investigá-lo.
Mas fiquei me perguntando, enquanto lia o livro todo, como um romance detetivesco, policial, de aventura nato sobreviveria a isso. O nome do gênero já diz que o que importa é a investigação, a trama, o assassinato. O detetive não pode ser superior a isso. Sherlock Holmes nunca invadiu a esse ponto suas peças criminais; sim sabemos de seu arqui-inimigo, mas seus conflitos pessoais ficam onde devem: dentro dele, longe do mistério e do leitor. James Bond tem seus traumas de infância, mas que só começaram a aparecer com esse último filme que se passa na sua casa materna, ou seja, já na edição 178458912... Mas começar uma saga policial dando mais ênfase à construção do detetive do que do crime me frustrou.
Novamente te lembro, meu caro leitor, que isso são críticas pessoais de uma leitora que ficou honestamente triste por esperar uma trama inebriante e se deparou com um assassinato gratinado à la drama. Até a metade do livro só se sabe que uma moça morreu. Só. Todo o resto é a vida e frustração e tristeza e abandono e mutilação e família e pai rockeiro do detetive. Não. Não era isso que eu queria ler. A história não andava. Não senti aquela febre de não querer largar o livro pra saber quem era o assassino. Não percorri muitas páginas a fio achando que tinha lido só duas. Não rolou. Ponto.
A trama é boa. Mas a construção é longa demais. Tem muitas variáveis, mas nenhuma delas é consistente sozinha. Todas as pistas são pequenas demais. E todas as personagens suspeitas são cansavelmente parecidas. Todos ricos, metidos, sexualizados, drogados e que preenchem suas vidas miseráveis com dinheiro. Ou seja, todos eles são um só. Todos seriam possíveis assassinos. Ou seja, não faz a menor diferença no final quem matou a menina. Eca.
Ok. Há uma explicação plausível. Mas a personagem criminosa não me convenceu como esperava com seus problemas particulares. Sim ela tinha características passíveis de psicopatia, mas não ao ponto em que chegou a trama. Não precisava de tudo aquilo.

Saudades não muito “matadas” dos romances policiais porque esse não contou. Espero que a continuação da saga que, sim, vou ler, deixe disso já que agora seu até o número da cueca do Cormoran Strike.
Escrito por Unknown Data: 12/08/2014 09:14:00 PM 2 comentários

2 comentários:

  1. Oi, Nath!
    Li esse livro no ano passado e exatamente hoje eu acabei de ler a continuação. Adorei sua resenha, mesmo tendo amado os dois livros. Concordo que o autor deu um ênfase grande na vida pessoal do Cormoran, mas eu gostei disso! Hahahaha... Eu gostei porque o tornou mais humano; acho que foi uma "inovação" de gênero, como você mesma disse (apesar de não ter gostado).
    Enfim, leia o segundo sim, o caso me fisgou MUITO mais, a trama e os suspeitos são 100 vezes melhores e mais explorados. (E a vida pessoal do detetive, embora presente, fica mais sutil)...
    Adoro seu blog!
    Bjs,
    Mario (Blog Voos de Hipogrifo)

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    Respostas
    1. Oi, Mario!!! Que bom ver vc por aqui tbm!
      Olha, considerei o livro bom, mas sem grandes temperos. Mas, se vc diz que o segundo melhora, terei que lê-lo!
      Gostei do Cormoran, da Robin, mas não estava esperando que o foco fosse tanto neles... só esperava x e veio y-xxxxx. heheheh
      Mas ainda gostei mais do "Morte Súbita"! E vc?
      Bjos

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