Tudo
tem limite
“Outra volta do parafuso” ou “A volta do parafuso”, mesmo
livro, muitos nomes, é um daqueles clássicos que você nunca diz que está lendo
pela primeira vez, e sim que está relendo, de tão conhecido e aclamado que é.
Acho que por esse motivo cheguei a ele com uma percepção já formada, sabendo o
que iria achar.
Este é um dos primeiros livros de suspense; ele apresenta
o gênero para o mundo, por consequência, ainda não o tem aprimorado, mas boa
parte das técnicas depois usadas por grandes autores como Stephen King e Agatha
Christie estão lá.
O livro é mais uma novela que um romance pela sua pequena
extensão, mas já consegue criar muito bem o clima de tensão necessário a
qualquer história de suspense. Há uma babá solitária, crianças que parecem
boazinhas demais, fantasmas, uma empregada pouco inteligente, um tio que nunca
aparece, um mistério no ar sobre a expulsão do menino mais velho da escola e
sobre a morte de dois antigos funcionários. E tudo se passa numa mansão
gigantesca, cheia de torres e ameias, bem no meio do campo, longe de tudo.
Mas o que me prendeu de verdade, e o que eu já sabia que
seria meu ponto principal de análise desde o começo, foi o foco narrativo. Pelo
texto ser escrito em primeira pessoa, seria impossível não desconfiar da
narradora. É incrível como toda cena de suspense tem sempre dois pontos de
vista: 1. Há um fantasma por ali mesmo, que ela e todos veem, mas ninguém quer
tocar no assunto por ser assustador demais; 2. A narradora é louca e só ela
enxerga o que não existe de verdade. Esse clima é demais. Mas tudo tem limite. Achei
que muitas cenas soaram repetitivas, óbvias, previsíveis. E muitos mistérios
ficaram pendurados sem necessidade. Não me apeteceu, como diria minha avó.
O que vale a pena ser levado em conta mesmo é o cenário
social em que o enredo se constrói. Estamos falando da relação entre uma babá
pobre, criando e educando duas crianças ricas. Porém, apesar de sua função e
maior idade, ela se submete aos jovens o tempo todo, por medo, por necessidade
social. O respeito e as opressões a impedem de educar efetivamente as crianças,
controlá-las e de descobrir o mistério no final por não poder encará-las e
confrontá-las. Senti mais medo pela narradora por conta dos seus patrõezinhos
despóticos do que dos fantasmas em si. Incrível como o mundo dos vivos pode ser
mais assustador que o dos mortos. Viva a sociedade!
Amei a resenha Nath. Incrível como esses livros nos fazem ficar tenso com sua narrativa.
ResponderExcluirAbraços.
Daí eu penso se os autores usam como ferramenta criativa para textos com tema sobrenatural o homem e como ele age . Criando a partir das horríveis ações do homem , personagens sobrenaturais , que nos parece bem reais muitas as vezes .
ResponderExcluir