Vou
ter que fazer com meus filhos
Acho que essa foi uma das maneiras mais cálidas que já vi
de demonstrar amor por uma criança: mantê-la o maior tempo possível no mundo da
imaginação.
Tolkien, além de proporcionar a nós, meros estranhos, a
possibilidade de sonharmos com mundos inimagináveis, com elfos, anéis mágicos,
dragões e hobbits, ele criou para seus filhos um universo próprio, criativo e
tão mágico quanto, mas com o Papai Noel nele.
Hoje, com a banalização que as datas festivas assumiram,
reduzidas a dias para se dar presentes, uma inciativa como essa é memorável. Tolkien,
através da lareira da casa, criou um canal de comunicação entre os filhos e os
seres que habitam o Polo Norte Imaginário. Ele se passava pelo próprio Papai
Noel, pelo Urso Polar e seus sobrinhos, pelos elfos das terras geladas, para
conversar com os filhos sobre, sim, seus presentes desejados, mas também sobre
a importância do Natal, as cruezas da guerra, os problemas financeiros da
família, o amadurecimento pela idade que chegava. Com muitas ilustrações - que
jamais serei capaz de fazer para meus filhos – o autor possibilitou que suas
crianças ficassem alguns minutos a mais ao longo do ano e de suas vidas num
mundo só delas, para o qual só a infância tem a chave.
Ele criava uma letra própria, tremida de frio, para o
Papai Noel, outra com muitos erros ortográficos para o Urso e mais uma,
caprichada, para o tão organizado elfo. Tudo para esconder a semelhança com a
sua e manter a ilusão. Suas cartas são repletas de aventuras, trapalhadas dos
funcionários, invasões de inimigos, linguagem em código e tudo o mais que uma
criança amaria.
Por mais que os irmãos fossem crescendo e descobrindo as
horríveis verdades de um mundo sem magia, Tolkien continuava se correspondendo
com os filhos menores e sem nunca deixar de mandar lembranças e beijos aos que
já haviam crescido. Manteve a tradição da lista de presentes, da carta que
deveria provar o merecimento deles, das meias penduradas pela casa e da lareira
como um pombo-correio.
O livro é incrível. Inspirador. Esperançoso. Uma luz no
fim do túnel para pais frustrados com a impessoalidade da nossa mídia, da nossa
economia capitalista, dos livros sem magia.
COM
CERTEZA aplicarei o experimento aos meus filhos. Mas os desenhos vão ter que
ficar para uma outra vida.
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Que lindo, Nathalia! Esse livro tão falado realmente merece ser lido por mais pessoas.
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