Percy Jackson à la X-Man
“O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares” conta a história de Jake, nosso narrador, um menino que era um “zero à esquerda” e que, de repente, descobre que todas as histórias de terror e aventura que seu avô lhe contava quando criança eram verdadeiras. Ele, então, decide investigar as lendas desse avô e o real motivo de sua morte trágica indo até a ilha onde este fora criado. Lá Jake vai buscar o antigo orfanato para crianças fugidas da 2ª Guerra, onde seu avô cresceu e onde as supostas histórias ocorreram. Mas ele é transportado no tempo magicamente por uma fenda temporal embutida num túmulo neolítico no meio de um pântano, encontra crianças mutantes, descobre que ele também é mutante e um monte de coisas estranhas começa a acontecer. Bom, resumidamente toda a ladainha está aí.
“O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares” conta a história de Jake, nosso narrador, um menino que era um “zero à esquerda” e que, de repente, descobre que todas as histórias de terror e aventura que seu avô lhe contava quando criança eram verdadeiras. Ele, então, decide investigar as lendas desse avô e o real motivo de sua morte trágica indo até a ilha onde este fora criado. Lá Jake vai buscar o antigo orfanato para crianças fugidas da 2ª Guerra, onde seu avô cresceu e onde as supostas histórias ocorreram. Mas ele é transportado no tempo magicamente por uma fenda temporal embutida num túmulo neolítico no meio de um pântano, encontra crianças mutantes, descobre que ele também é mutante e um monte de coisas estranhas começa a acontecer. Bom, resumidamente toda a ladainha está aí.
Fiquei frustrada, mas toda a culpa foi da diagramação do
livro. Quando você lê esse título gigantesco e promissor, vê a capa com foto de
criancinhas estranhas com seus rostos omitidos, lê na contracapa a indicação do
TIM BURTON dizendo que ele gostaria de ter escrito essa história, e dentro das
páginas amareladas do livro vê fotos autênticas e assustadoras de crianças em
poses não comuns, você automaticamente pensa que se trata de um livro de
terror. E eu tenho buscado ler um que realmente me assuste e cumpra a proposta
há anos. Tentei uma vez ler “A Profecia” e nunca consegui sair da vigésima
página, porque eu quase fazia xixi nas calças de tanto medo, portanto pensei em
enfrentar outro livro arrepiante para desfazer o trauma e conseguir retornar à
“Profecia”; mas nunca encontrei um terror de verdade. Fui iludida pelas
promessas da editoração.
O livro poderia ter abordado tantos vieses complexos, mas
nada foi feito. Quando comecei a ler e vi que o avô contava histórias mágicas
ao neto e este, ao crescer, deixou de confiar nelas, mais por orgulho do que
por ceticismo, pensei que tomaríamos um rumo estilo o filme “Peixe Grande”, que
brinca ao extremo da beleza e lirismo com aquilo que é verdade e com o que é
apenas verossímil. Mas não teve lirismo nenhum. Aí pensei que, como o avô
contava sobre monstros no orfanato em que ficou durante o Holocausto, imaginei
que as aberrações seriam meras metáforas dos nazistas e entraríamos num drama
histórico. Mas também não. TEM MONSTROS DE VERDADE. Então ok, comprei a ideia.
Mas, quando o monstro aparece, ele foi descrito de um jeito tão... ai... sem
graça que era impossível sentir medo. O bicho se resumia a um homem com uma
boca estranha de onde saía uma língua tripartida e em forma de tentáculos.
Sério. Só consegui pensar em “Os piratas do Caribe”, em Davy Jones, e o
cara-de-polvo associado a Jack Sparrow não dá medo. Um livro com monstros tem que
DESCREVER de verdade o bichinho, envolvendo o leitor.
As cenas de perseguição e de aventura até que não são
ruins, a leitura flui, tem velocidade, mas não assusta ninguém. Então se eu
soubesse que era apenas mais uma saga juvenil, teria lido o livro assim e
provavelmente teria gostado, porque ele tem tudo de que um “Percy Jackson”
precisa. Primeiro, universo totalmente maniqueísta, não tem um único fulano
estranho que nem a gente; todo mundo ou é honrado e de perfeito caráter, como
os mocinhos do bem, ou feio e com intenções completamente deturpadas, como os
vilões. Segundo, só há personagens planas, sem qualquer complexidade; houve
vários momentos em que o autor poderia ter explorado melhor a inveja que o pai
de Jake sentia da relação do filho com seu pai; ou da falta de amor e afeto que
havia na casa do protagonista, tanto entre os pais, quanto entre o pai e o avô,
quanto dos pais com ele; das pressões sociais: do pai ser um bobão infantiloide,
enquanto era a mãe que provia a casa e não queria que o filho seguisse o
caminho do pai; até do bullying escolar ele poderia ter tratado. Mas tudo foi trabalhado
de maneira superficial. Terceiro, o orfanato funciona como um local de
treinamento para jovens promissores e diferentes do resto do mundo, e também
espaço de segurança e diversão idílica. Lá há uma diretora honesta, valente e
sábia. Há alunos com todas as habilidades possíveis, mas que se assemelham mais
aos quadrinhos e filmes do "X-Man" do que a Percy. Entre outros pontos que
poderia levantar. Ou seja, teria dado certo como um livro de aventura juvenil.
Mas houve coisas que não colaram mesmo. Principalmente o
romancezinho entre Jake e Emma. Tudo indo muito bem, tudo sendo muito fofo,
mas, espera. Ela era a namorada do avô que nunca envelheceu e que nunca se
esqueceu da primeira paixão que a abandonou e que agora está de chamego com o
neto. Eca. Quase um incesto. E cadê a conversa sobre isso? Cadê os conflitos
pessoais de Jake ao ser usado apenas como substituto desse avô? Ele não é o
mocinho? O herói nunca pode ser estepe de ninguém. Meio nojento, além de
estranho. Pior: todos os moradores do orfanato têm mais de 70 anos, apesar de
terem seus físicos congelados na adolescência ou infância, mas eles agem de
maneira muito incoerente com toda a experiência que têm. Eles se misturam com
Jake, que realmente só tem 16 anos, e não se vê a menor diferença entre eles.
Tudo bem que foram tratados pela diretora como submissos a ela, mas não era
para terem evoluído nem um pouquinho?
Mas o que me irritou no final MESMO foi que não teve
final. O filho se despede do pai da maneira mais incoerente do mundo,
totalmente improvável para as características tanto do pai, quanto do filho. E
nada é concluído. O filho se despede dizendo que pode ser que volte, pode ser
que não. Nada se explica sobre a viagem no tempo que farão, não se sabe pra
onde vão, o que farão, e para que século estão se dirigindo. Também não se sabe
se Jake poderá sair da fenda temporal. E o que acontece com a outra diretora
que é raptada? Quantos acólitos são? E quantos etéreos? Jake fica com Emma,
romanticamente falando? Sabe quando acaba naquela cena, com os personagens
navegando para o além, com um horizonte muito perigoso literal e
metaforicamente diante deles? Pois é. Típica tentativa de o autor deixar TODAS
AS MARGENS POSSÍVEIS para escrever um segundo, terceiro, septuagésimo livro.
Isso é jogo de marketing. É tentativa de fazer você gastar dinheiro e tempo com
ele, os quais ele não disse que exigiria de você; não é uma saga pré-definida.
É o autor esperando que você o ame tanto a ponto de implorar por mais e, assim,
ele misericordiosamente te dar mais. Mas cuidado. Na política, Jânio Quadros
tentou fazer isso também...
Nem todo mundo é J.
K. Rolling.
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