domingo, 27 de julho de 2014

Teoria do Caos

DIA 6
Como saber o quanto pequenos atos e decisões de nossa juventude poderão influenciar no destino de uma vida inteira? Como julgar a capacidade de nossos ídolos em nos guiar, quase como exemplos vivos, às vezes até mais importantes em nossa opinião do que nossos pais? O que escolher entre ter uma doença física ou uma psicológica em mesmo nível de complexidade? Qual escolha em sua vida fez de você o que realmente é? O quanto de sofrimento vale a pena em prol de ter conhecimento sobre a vida? Quando a ignorância é uma benção?
Essas são algumas das poucas perguntas que Michel Laub nos deixa em “A maçã envenenada”, livro lançado em 2013, pela Companhia das Letras, editora de todos os romances do escritor.
Esse é o típico livro para se ler em um dia, pois, depois de avançar até certa página, é impossível se desprender das dúvidas e problemas do nosso protagonista, que vive, respira e faz escolhas como uma pessoa corriqueira, como aquela se você encontra na esquina do trabalho, no ponto de ônibus, no quarto ao lado, ou na cozinha a preparar o seu café.
O livro é vivo, não apenas pelos temas demasiado humanos que são abordados, mas pela estrutura narrativa usada pelo escritor. O enredo é entrecortado, contado simultaneamente em diversos planos temporais. Acompanhamos em um capítulo nosso narrador no presente, em 2013; no capítulo seguinte, voltamos para a formação da sua banda e todo o processo espiritual e financeiro que levou a isso na década de 70; logo em seguida temos prenúncios de um show famoso que ocorreu no Brasil a que o protagonista não compareceu, mas sobre o qual sabe tudo; daí voamos para Ruanda para conhcermos o massacre étnico pós-independência; e depois para um acidente de carro que definiu a vida do personagem; então uma viagem a Londres; para voltarmos à carreira de jornalista do narrador. A ordem dos fatos é de início uma confusão, pois muitos atos, de diversas pessoas, se diferentes, poderiam ter mudado completamente a vida do protagonista. Esses mesmos atos, quando contados, puxam os seguintes, não por cronologia, mas por semelhança em tema, em sentimento desencadeado, ou por cenário escolhido. A história pulsa aos olhos do leitor. Mostrando como o caos pode disseminar a ordem, mesmo que esta demore a fazer sentido aos olhos limitados do ser humano que só consegue ver o seu presente.
Só nas últimas vinte páginas do livro tudo parece se ligar, para resolver a cronologia dos eventos, mas não para solucionar as questões propostas pelo livro. Principalmente por ele todo ser dualista e propor a cada página uma dúvida ao leitor. Temos, por exemplo, dois ídolos que exercem influências distintas na sociedade, pois defendem pontos de vista sobre a vida muito diferentes: Kurt Cobain, o suicida vocalista do Nirvana, atualização romântica de Werther convertida ao rock – ídolo do jovem narrador e de sua namorada -, e uma escritora de Ruanda, sobrevivente ao massacre em seu país – novo ídolo do protagonista, agora adulto. Ou quando temos que enfrentar deficiências das personagens: um física, outro psicológica. Ou mesmo quando nos remetemos ao título, “A maçã envenenada”, mito bíblico que pressupõe o sofrimento e a penalidade para se obter conhecimento; tema central do romance que mostra como de um lado temos o entendimento dos fatos e o amadurecimento, ambos atrelado à dor e à perda, e do outro a ignorância, mas banhada de felicidade.

Escolhas difíceis essas, que vão se propondo aos olhos do leitor pouco a pouco, da mesma maneira engenhosa em que acontece com outro livro de Laub, “Segundo Tempo”. Temos, portanto, que essa eficiência em narrar de maneira lúdica e a abordagem de temas tão necessários aos homens são de fato um talento do escritor.
Escrito por Unknown Data: 7/27/2014 05:16:00 PM 2 comentários

2 comentários:

  1. Essa resenha me deixou com muita vontade de ler este livro. Não conhecia esta obra, conheci através do teu canal. Tenho amado as dicas de leitura. Abração

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  2. Que bom que tenho sido útil! Espero que nossos gostos batam par sempre continuar indicando coisas boas a vc e sugar um pouco do q vc acha bom tbm... hehe Bjos

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