Teoria
do Caos
DIA 6
Como
saber o quanto pequenos atos e decisões de nossa juventude poderão influenciar
no destino de uma vida inteira? Como julgar a capacidade de nossos ídolos em
nos guiar, quase como exemplos vivos, às vezes até mais importantes em nossa
opinião do que nossos pais? O que escolher entre ter uma doença física ou uma
psicológica em mesmo nível de complexidade? Qual escolha em sua vida fez de
você o que realmente é? O quanto de sofrimento vale a pena em prol de ter
conhecimento sobre a vida? Quando a ignorância é uma benção?
Essas
são algumas das poucas perguntas que Michel Laub nos deixa em “A maçã
envenenada”, livro lançado em 2013, pela Companhia das Letras, editora de todos
os romances do escritor.
Esse é
o típico livro para se ler em um dia, pois, depois de avançar até certa página,
é impossível se desprender das dúvidas e problemas do nosso protagonista, que
vive, respira e faz escolhas como uma pessoa corriqueira, como aquela se você
encontra na esquina do trabalho, no ponto de ônibus, no quarto ao lado, ou na
cozinha a preparar o seu café.
O livro
é vivo, não apenas pelos temas demasiado humanos que são abordados, mas pela
estrutura narrativa usada pelo escritor. O enredo é entrecortado, contado
simultaneamente em diversos planos temporais. Acompanhamos em um capítulo nosso
narrador no presente, em 2013; no capítulo seguinte, voltamos para a formação
da sua banda e todo o processo espiritual e financeiro que levou a isso na
década de 70; logo em seguida temos prenúncios de um show famoso que ocorreu no
Brasil a que o protagonista não compareceu, mas sobre o qual sabe tudo; daí
voamos para Ruanda para conhcermos o massacre étnico pós-independência; e
depois para um acidente de carro que definiu a vida do personagem; então uma
viagem a Londres; para voltarmos à carreira de jornalista do narrador. A ordem
dos fatos é de início uma confusão, pois muitos atos, de diversas pessoas, se
diferentes, poderiam ter mudado completamente a vida do protagonista. Esses
mesmos atos, quando contados, puxam os seguintes, não por cronologia, mas por
semelhança em tema, em sentimento desencadeado, ou por cenário escolhido. A
história pulsa aos olhos do leitor. Mostrando como o caos pode disseminar a
ordem, mesmo que esta demore a fazer sentido aos olhos limitados do ser humano
que só consegue ver o seu presente.
Só nas
últimas vinte páginas do livro tudo parece se ligar, para resolver a cronologia
dos eventos, mas não para solucionar as questões propostas pelo livro.
Principalmente por ele todo ser dualista e propor a cada página uma dúvida ao
leitor. Temos, por exemplo, dois ídolos que exercem influências distintas na
sociedade, pois defendem pontos de vista sobre a vida muito diferentes: Kurt
Cobain, o suicida vocalista do Nirvana, atualização romântica de Werther
convertida ao rock – ídolo do jovem narrador e de sua namorada -, e uma
escritora de Ruanda, sobrevivente ao massacre em seu país – novo ídolo do
protagonista, agora adulto. Ou quando temos que enfrentar deficiências das
personagens: um física, outro psicológica. Ou mesmo quando nos remetemos ao
título, “A maçã envenenada”, mito bíblico que pressupõe o sofrimento e a
penalidade para se obter conhecimento; tema central do romance que mostra como
de um lado temos o entendimento dos fatos e o amadurecimento, ambos atrelado à
dor e à perda, e do outro a ignorância, mas banhada de felicidade.
Escolhas
difíceis essas, que vão se propondo aos olhos do leitor pouco a pouco, da mesma
maneira engenhosa em que acontece com outro livro de Laub, “Segundo Tempo”.
Temos, portanto, que essa eficiência em narrar de maneira lúdica e a abordagem
de temas tão necessários aos homens são de fato um talento do escritor.
Essa resenha me deixou com muita vontade de ler este livro. Não conhecia esta obra, conheci através do teu canal. Tenho amado as dicas de leitura. Abração
ResponderExcluirQue bom que tenho sido útil! Espero que nossos gostos batam par sempre continuar indicando coisas boas a vc e sugar um pouco do q vc acha bom tbm... hehe Bjos
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