Flertando
com Octávio Paz
DIA 7
E então
eu li o “Fim”, justamente no fim da minha semana dos “sete dias felizes” e
acabei simplesmente feliz. Clichê, né? Mas que disse que a vida sempre
surpreende?
O título dele faz jus a seu conteúdo, pois acompanhamos a
vida de cinco amigos, todos moradores do Rio de Janeiro e exímios frequentadores
das praias e noitadas da cidade, narrando apenas seus últimos momentos, ou
seja, culminando nas suas cinco patéticas mortes. Patéticas não porque foram
ruins, muito pelo contrário, mas porque cada um teve exatamente aquilo que
mereceu. Achei justo. Por isso o livro me fez pensar muito em Octávio Paz, pois
em um de seus ensaios, chamado “Todos os santos, dia de finados”, o crítico
alega que não há coisa pior para o ser humano do que ter uma morte não
compatível com o estilo de vida que a pessoa levou, como um super-herói morrer
de gripe, ou um pai de família, honesto, morrer atropelado por um bêbado
delinquente. A teoria do escritor foi muito bem utilizada por Fernanda Torres,
pois cada um dos cinco amigos terminou de maneira previsível, ou pelo menos
devida.
Obviamente não é só da morte que o livro trata, mas das
atitudes anteriores das personagens que as levaram para tal. Sabemos como se
conheceram, com quem se casaram, alguma coisa sobre suas famílias, e muito
sobre suas vidas sexuais. Os casamentos são abordados na sua maior amplitude
possível, desde aquilo que se passa entre quatro paredes, até o pedido, o que
comem, quem acorda primeiro, e quem odeia mais seu parceiro. Não há idealização,
há apenas a visão crua do desgaste que um relacionamento de muitos anos pode
causar em ambas as partes e nas pessoas envolvidas. O livro é uma análise
social principalmente sobre a família brasileira constituída na década de 60/70,
regada a dramas, romantismo, drogas, sexo e os anseios intrínsecos ao ser
humano.
Fiquei muito empolgada com a escrita leva de Fernanda
Torres, que nos leva sem resistência à boca das personagens, pois aos cinco
amigos é dado o poder de narrar em primeira pessoa suas principais memórias e o
momento de suas mortes. Cada um tem seus jargões, sua velocidade e seu carisma
diferente. Aos que estão ao seu redor cabe apenas a onisciência de um narrador
em terceira pessoa, mas que narram, de seu próprio modo, as mesmas cenas
escolhidas pelos protagonistas, dando outra visão muitas vezes sobre elas. É simplesmente
incrível ver como um mesmo ato pode ser tão ambiguamente interpretado. É lindo.
Se os personagens não fossem tão tristes e alguns tão cruéis,
esse livro daria, facilmente, uma peça de teatro, regada a muita risada, ação,
drama, cenas risíveis e muitas conversas de bar tipicamente masculinas. Adoraria
assistir a uma peça dessas, fica a dica!
Gargalhei,
quis chorar, quis socar a cara de alguns deles, vibrei com a morte de outros,
mas também tive pena, ao mesmo tempo que compreendi, e odiei. Livro para todos
os momentos. Para maiores de 16 anos.
Fernanda
Torres, escreva mais, por favor.
Não sei a razão, mas este livro não tinha despertado meu interesse, pelo menos até agora. Depois de ler teus comentários, passei a enxergá-lo com outros olhos. E não é que a leitura parece bem interessante! Vou ter que colocá-lo na minha (vasta) listinha de querências. Vou ter que frequentar menos aqui o blog e o canal senão vou ter uma lista de desejos ad eterno. :)
ResponderExcluirAbraços
Nãooo!!! Não deixe de frequentar o blog não! hahaha... Mas conheço teu desespero, minha liste de "quereres" está quase do tamanho de uma bíblia... haha... Achei esse livro de uma leveza na lgm fantástica, mas de uma complexidade social muito gde. Depois de ler, venha me contar o que achou. Mas não crie preconceitos contra ele como criei... ele vale muito a pena. Bjinhus, querida!
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